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Uma comunidade autossuficiente e sustentável, esses foram algumas das coisas que motivaram o arquiteto e urbanista da Guaxo Projetos Sustentáveis, Rodrigo Munhoz, a dar início a um projeto de cohousing que já faz sucesso em alguns países e que começa a despertar o interesse de muitas pessoas por aqui, que buscam no compartilhamento de moradias, um possível lar para o futuro de suas vidas.

BRP: Como nasceu a ideia do cohousing? Buscaram inspiração em outros países? Conheceram de perto esse conceito?

Rodrigo: Meu interesse sempre foi a criação de comunidades autossuficientes e a construção sustentável. Para entender mais sobre esse assunto, fui à Europa conhecer alguns exemplos consolidados de ecovilas e construções sustentáveis. Passei quase dois anos experienciando a vida nas ecovilas de Findhorn, na Escócia, Svanholm, na Dinamarca, Tamera, em Portugal, além de outras comunidades em outros países. Isso me incentivou a criar algo parecido na minha terra natal.

O conceito do cohousing veio como uma forma de juntar vivência comunitária, princípios da construção sustentável e, a isso, adicionar o componente da interação com o ambiente urbano, possibilitando usufruir de uma infraestrutura já consolidada e das facilidades da cidade, que para mim faltava nas ecovilas que passei.

BRP: Há quanto tempo iniciaram esse projeto? Já concluíram?

Rodrigo: O projeto começou em 2012 e a partir de então ocorreram muitas idas e vindas. Neste momento, o projeto está parado a espera de uma parceria para um terreno em área urbana.

BRP: Por que montar um cohousing no Brasil e em Piracicaba?

Rodrigo: Piracicaba porque é minha terra natal, localizada em um país que sempre sofreu demasiadamente com instabilidades político-econômicas. A autossuficiência em termos energéticos, alimentares e a economia colaborativa são ferramentas que, além de propiciarem certa independência dessas flutuações, também fomentam cidadãos mais ativos nas políticas regionais.

BRP: Você percebe que as pessoas já estão se programando para essa espécie de Vila entre amigos?

Rodrigo: Recebemos telefonemas e e-mails de toda parte do Brasil. Viver isoladamente e subtrair de nossa vida o aspecto gregário, gera uma série de patologias psicológicas, principalmente para idosos, as pessoas já percebem que daria para ser melhor.

BRP: Acha que essa poderá ser uma realidade aqui no Brasil? Por quê?

Rodrigo: Enxergamos um potencial enorme, pois os cohousings foram criados para solucionar problemas muito comuns aos brasileiros, entre eles, a falta de segurança nas cidades que está associada à falta de interação entre os vizinhos. Esta “vigilância” comunitária é uma barreira psicológica importante para dissuadir atitudes antissociais e ilícitas. Podemos citar também a possibilidade de oferecer a estas famílias certas infraestruturas muito caras para uma única família tais como piscina, oficinas, sala de música, biblioteca etc.

A mudança do perfil das famílias nas últimas décadas influenciou fortemente a concepção dos cohousings. Com isso, surge a necessidade de serem criadas unidades habitacionais que sejam mais funcionais para esse novo público. Pais solteiros, idosos e jovens podem usufruir das vantagens de viver coletivamente além de terem menos trabalho na manutenção dos espaços coletivos. O perfil desse público é extremamente variado, como descrito acima, mas uma ideia que seleciona o mesmo é a vontade de conviverem próximos de usufruir de espaços de convivência e o apreço pela questão ambiental.

BRP: Você já pensou na possibilidade, no futuro, em morar em uma dessas vilas?

Rodrigo: Claro. Construir e morar.

BRP: Para quem acha que o cohaousing se destina? Para solteiros na terceira idade, amigos que perderam seus parceiros, para aqueles que não querem dar trabalho para seus filhos… ? Conseguiu perceber um perfil específico para o cohousing?

Rodrigo: O perfil de cohousings em geral é bem variado, mas a grande maioria é de profissionais autônomos e com ensino superior completo, de classe média. O objetivo, porém, é fazer uma mescla de rendas e idades, fato que contribui para a longevidade de cohousings.

BRP: Como é o projeto? Vocês criam essas Vilas e vendem as casas, como funcionaria?

Rodrigo: O projeto concebido em 2012 é apenas um protótipo para aproximar essas famílias ao conceito de cohousing e aos custos envolvidos na construção do gênero. O projeto, tal como foi concebido, ocuparia um terreno a sete quilômetros do centro da cidade. Seriam sete apartamentos de 50 metros quadrados de área privativa com infraestrutura completa, envolvendo cozinha, banheiro, um ou dois quartos, sala de jantar e estar. Coletivamente, os moradores podem usufruir de uma grande cozinha, lavanderia, oficina, banheiros, estacionamento, bicicletário, piscina e ainda 130m² de jardim sobre a cobertura do edifício. Como foi dito anteriormente, porém, esse desenho inicial muda conforme as decisões do grupo.

BRP: O que você espera para o seu futuro em termos de moradia?

Rodrigo: Viver em uma comunidade vibrante e ativa onde possa conviver e aprender com os mais variados estilos de vida e junto com essas pessoas ter um mínimo impacto no meio ambiente.